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Criar é exatamente isso: buscar em seu mundo referências e inspirações. Inspirar-se com o que já foi feito de bom e de ruim, claro. NADA É ORIGINAL. Muito menos nesses tempos de ideias à jato, pensamento fast food.
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Criar é exatamente isso: buscar em seu mundo referências e inspirações. Inspirar-se com o que já foi feito de bom e de ruim, claro. NADA É ORIGINAL. Muito menos nesses tempos de ideias à jato, pensamento fast food.
Demorei a reconhecer Guy Pierce no papel de Andy Warhol em Factory Girl. Minha ignorância perante a Pop Art como um todo, é consciente. Bem sabia somente das partes mais populares mesmo, como latas de sopa Campbell e garrafas de coca-cola estilizadas como ícones de um movimento cultural onde fora proclamado que no futuro todos terão seus 15 minutos de fama.
Mas Factory Girl (recuso-me a usar a ridícula tradução que deram ao título ) me fez querer saber mais. Adoro ser tirada da zona de conforto em frente a tela de TV para submergir em outros ares. O filme em si não é nada demais. Um elenco bom, mediano, que não surpreende nem decepciona.
A estrela maior, claro, é a protagonista do enredo (e não do filme): Edie Sedgwick. Que Paris Hilton que nada, nem Amy Winehouse. Adicção sem glamour não dá. Edie encanta e deixa no chinelo qualquer história sobre pobres meninas ricas até mesmo por ser a própria titular da expressão. Décadence avec élégance é o termo certo para ela.
Rica e atormentada – foi abusada desde criança por seu pai opressor, sofreu com suicídio do irmão que declarou-se gay e ainda teve passagem por um hospital psiquiátrico enquanto adolescente -, Edie era herdeira de uma das maiores fortunas norte-americanas da década de 60. Estudou arte em Cambridge e desembarcou em Nova Iorque com seu ar natural de diva para ser magnetizada pelo mundo surreal do designer e artista plástcio Andy Warhol.
Tornou-se a It Girl e levou glamour a Factory, o estúdio de criação artística de Warhol e toda sua trupe. Este local foi o berço de vários filmes de arte ons quais contracenava. Nada renderam financeiramente, mas muito deram o que falar. Aliás, Factory era A Fábrica de arte em cores, sonhos de filmes, de sons, de drogas, de tudo, tudo mesmo. Um antro de criação e alienação de todos os artistas que cercavam Andy Warhol.
Seu estilo de vestir-se e sua espontaneidade não demorariam a virar moda. As pestanas carregadíssimas, a maquiagem exagerada nos olhos e brincos enormes tornaram-se tendência para toda uma geração que vivia o caos do final da II Guerra Mundial, enquanto factory’s boys and girls viviam o êxtase das anfetaminas.
O cenário musical da época também sofreu influência da personalidade e representativa imagem de Edie. A banda produzida por Andy Warhol, The Velvet Underground, possui uma canção ode a ela no cd The Velvet Underground & Nico chamada Femme Fatalle.
A Poor Little Rich Girl também foi musa inspiradora de Bob Dylan, com quem teve um affair. O fim dessa relação seria uma das causas de sua queda profunda no uso de heroína.
Bob Dylan supostamente vetou o uso de sua imagem no filme Factory Girl. Ainda assim, é incontestável a importância que teve na vida da socialite. No filme, o personagem que faz o papel de Bob, é contra a relação dela com Andy Warhol e também a forma como ele a usava como um objeto, uma verdadeira bonequinha de luxo.
O fim de Edith Sedgwick é tão trágico quanto sua trajetória é intrigante e estranhamente apaixonante. “Viveu pouco”, talvez muitos digam. 28 anos. Todavia, a intensidade desse viver ultrapassou qualquer compreensão. Ela continua sendo um ícone de estilo, loucura e carpe diem do final do século XX.
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